“Mas minha maior inspiração vem da minha melhor amiga, a deslumbrante mulher, de quem recebi o nome e a vida… Lorelai Gilmore. Minha mãe nunca me deu qualquer ideia de que eu não poderia fazer ou ser o que quisesse. Ela encheu nossa casa com amor, diversão, livros e música, incansável em seus esforços para me dar exemplos de conduta que vão de Jane Austen, Eudora Welty a Patti Smith, formando a minha personalidade. Ao me guiar nesses incríveis 18 anos, eu não sei se ela chegou a perceber que a pessoa que eu mais queria ser era ela. Obrigado Mãe, você é meu exemplo para tudo”.
(Talvez você devesse ler esse texto ao som de "Where you lead" ou os clássicos "La La La", acho que assim os sentimentos que guiaram a escrita serão melhor compreendidos)
Percebi que muitas das pessoas que me conhecem a bastante tempo não sabiam que eu havia assistido e amava Gilmore Girls. Acho que meu amor por essa série era algo internalizado, algo que eu sentia de forma tão íntima que gritar meu amor por essa série ao mundo parecia errado de alguma forma. Era algo para ser sentido entre eu e as meninas Gilmore. Quase que num sentimento de egoísmo, não me agradava a ideia de dividi-las.
Também é preciso lembrar que quando assisti Gilmore Girls, eu nem ao menos sonhava com as possibilidades da internet e das amizades que se poderia fazer através dela. Eu não falava de Gilmore Girls pois não tinha ninguém para fazer isso (vocês conseguem imaginar isso hoje, geração Netflix?). Justamente por isso, esse sentimento de pertencimento era algo singular. Gilmore Girls fez exatamente isso: me fez sentir que eu pertencia a algo.
Alguns dizem que nós somos a soma das coisas que lemos, das pessoas que conhecemos e dos lugares que visitamos. Eu gostaria de acrescentar que somos a soma também daquilo que assistimos e eu sou muito grata por ter tido a oportunidade de ter crescido sob a influência dessa série.
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"Well, I believe it's those adorable Gilmore Girls" |
Gilmore Girls é uma das séries mais humanas que já me deparei, talvez, seja por isso que ela ocupe um papel tão importante na minha vida e tenha um cantinho tão especial no meu coração. Ao ver Rory lutar para conseguir entrar em Harvard, estudar feito louca e ler os mais maravilhosos livros do mundo (mesmo que fosse em uma festa) fez as meninas daquela geração (assim como eu) sentir que pertencíamos algo. Fez a as meninas que cresceram sob essa influência botarem na cabeça que poderiam conseguir o que quisessem e poderiam ir para onde quisessem se lutassem o bastante para isso.
Ver Gilmore Girls numa época onde você está tentando entender como a vida funciona, o que você vai fazer em seu futuro e como as pessoas que estão ao seu redor acabam ajudando você a moldar quem você será como pessoa, foi essencial para eu ser quem eu sou hoje. A Michelle que viu Gilmore Girls encontrou em Rory a inspiração para estudar o máximo que conseguisse para entrar na faculdade e realizar o sonho de estudar biologia. A Michelle que hoje tem a possibilidade de rever Gilmore Girls é uma bióloga oficialmente formada e imensamente feliz. Mas a mágica de dessa série está no fato de que se você começou a assisti-lá pela Netflix esse ano, você ainda pode sentir um amor incondicional por ela. Como se as garotas Gilmore fossem presença constante na sua vida sendo algo que hoje é impossível se imaginar sem. Não importa a quanto tempo a série está na sua vida, ela com toda certeza tem espaço no seu coração e mudou um pedacinho de você de alguma forma.
Gilmore Girls é atemporal e por isso cativou a nova geração de fãs tão rapidamente como conquistou a geração que cresceu com ela. Lutar pelo que queremos e lutar para ser quem somos. Somos criados para acreditar que se lutarmos para conquistar nossos sonhos e trabalharmos realmente duro para isso, as coisas começam a acontecer. Não é fácil, existem desafios e quedas (mais quedas do que gostaríamos de admitir) e é isso que as meninas Gilmore vem nos mostrar. Elas vem nos mostrar o lado o mais humano possível das coisas, o lado humano com suas conquistas, dificuldades, derrotas, quedas e pessoas que te ajudam a levantar.

Sentir os personagens, tão bem construídos, é o fator que faz essa série ser tão marcante nas nossas vidas. Sentir a dor de cada um deles, a decepção de não conseguir entrar na faculdade que você tanto lutou para conseguir, a dor de estar perto de realizar seu sonho e ter tantos empecilhos pelo caminho. Achar que você não é capaz. Brigar com a pessoa mais importante da sua vida. Não ter um bom relacionamento com os pais. Isso tudo pode acontecer a qualquer momento na vida de cada um de nós. Não é algo absurdo, é algo mundano e isso faz com que você se coloque no lugar das pessoas e sinta verdadeiramente o que elas estão sentindo. O que pode te levar às lágrimas e também ao ápice do riso. Tudo num mesmo episódio.
Talvez a maior beleza de todas esteja em como as personagens são falhas. Isso as torna humanas, traz nossas amadas garotas para perto de nós. Existem muitas “Lorelais” e “Rorys” no mundo. Lorelai é uma mãe absolutamente fantástica (é impossível não desejar que ela seja sua mãe ou que você no futuro – ou agora- seja uma mãe como ela), porém, ela tem seu combo de problemas que incluem relacionamentos não resolvidos no passado, uma relação conturbada com os pais e, claro, o fato dela ter engravidado aos 16 anos e decidido trilhar esse caminho sozinha. Ou ao menos até encontrar a família que ela encontrou em Stars Hollow.
Rory, é uma garota absolutamente amável, inteligente, culta e educada mas que, apesar de tudo isso, comete seus erros (e olha que não são poucos não, viu?) e precisa parar para repensar sua vida em diversos momentos. Aquele momento que você se perde e não consegue se encontrar novamente, ou tem medo das consequências que isso pode trazer. Nem que para isso seja necessário um empurrãozinho de pessoas que são (ou foram) importantes em sua vida. Afinal, Gilmore é também sobre o poder e valor da amizade.
Acredito que os amigos são a família que nos é permitido escolher. Não sei se Lorelai escolheu a família de Stars Hollow ou se eles a escolheram. No fim, acho que o coração de um combinava com o coração do outro e ali ela pode ser ela mesma. Livre dos julgamentos da mãe, expectativas dos pais e com todo o apoio que ela precisava para que conseguisse criar sua filha com a atenção, paciência e liberdade que ela não teve quando criança.
Gilmore Girls é uma série que mescla o drama e a comédia de forma deliciosa. Os risos vem das situações mais cotidianas possíveis, em diálogos rápidos e respostas inteligentes e completas de referênciasemana a cultura pop, a série encontra nessa mescla da seriedade com a diversão a fórmula perfeita para cativar quem a assiste. Você precisa de Lorelai Gilmore na sua vida. Com suas respostas rápidas, seu senso de humor sem limites e claro, sua habilidade de falar sem parar por tempo indeterminado. Mas a série consegue fazer comédia sem deixar questões importantes que precisam ser trabalhadas de lado.
Gilmore é uma série sobre mulheres e, mais do que importante, isso é necessário. A série foi ao ar em uma época onde o termo “feminismo” não era mencionado como é hoje e a série foi a frente de seu tempo e quebrou paradigmas desde o começo. A começar por uma mãe solteira nomear a filha com o seu próprio nome porque o “feminismo” dela falou mais alto (e os homens fazem isso o tempo todo). Sookie que em seu início era a clássica “gordinha desastrada” logo mudou de característica para um profissional extremamente competente e reconhecida na sua área e o seu peso nunca foi objeto de plots para ela na série. A amizade de Rory e Paris crescendo entre as intrigas e competições, as amizades de Sookie e Lorelai, Lane e Rory, Rory e Lorelai. Amizades que mesmo com todas as diferenças funcionavam. Uma sempre ali pela outra. Sempre apoiando, sempre perto. A força e a independência feminina marcam a série e isso é tão importante agora como era antes.

É claro que as meninas Gilmore ficam divididas (assim como os fãs) entre os homens certos para suas vidas. Muitos aparecem, muitos somem, muitos são amados, muitos são odiados. Sobre isso só posso dizer que espero que um dia todos possam encontrar alguém que guarde um pedaço de papel que você escreveu no dia que vocês se conheceram por oito anos até vocês ficarem juntos (Pessoalmente desejo não esperar oito anos, mas vocês entenderam).
Hoje parece inacreditável que a série esteja completando 16 anos e mais inacreditável ainda que o revival, um sonho nosso tão antigo, esteja tão próximo. Fico orgulhosa e feliz de ver tantas pessoas assistindo, amando Gilmore Girls e colocando essa série entre suas favoritas. Mas o sentimento egoísta ainda está presente e sinto uma pontada estranha no coração, como se fosse estranho tantas pessoas amando agora essa série que eu tinha como "minha" mas sempre mereceu ser amada pelo mundo.
Rever a série esse ano a colocou em outra perspectiva para mim. De certa forma era um amor permanente e quieto que resolveu sair quando comecei a perceber o quanto essa série influenciou minha vida. Cresci com Rory e em novembro poderei ver como estão os personagens que cresceram comigo e que eu tanto senti falta nesses nove anos. Esses personagens que me ensinaram tanto.
Aprendi com Lorelai que a vida nem sempre vai ser perfeita, que você vai ser duramente julgada e que sua atitude diante de tudo isso é que quem vai definir quem você é e como sua vida será. Aprendi com Rory que tudo bem andar com a cabeça enfiada em livros, que tudo bem ser “nerd” e que não ser a garota popular e festeira não é o fim do mundo. Aprendi com Lane que as vezes precisamos sacrificar algumas coisas para seguirmos nossos sonhos. Aprendi com Paris a não ter medo de liderança e que eu devo levar uma vida em que eu possa ler minha biografia quando estiver velha sem vomitar.

Aprendi principalmente um conceito de família e valores que nenhuma outra série foi capaz de expressar com a beleza que Gilmore expressou. Nem toda família é perfeita. Nem toda família conta com a presença constante do pai presente (e ver isso, em caráter pessoal foi importante pra mim), nem toda família te compreende. A vida é complicada, famílias são complicadas e está tudo bem. Ter uma discussão, brigar, discordar em basicamente todos os pontos não é o fim do mundo. Novamente, a forma como as pessoas lidam com isso é que vai ditar a direção das coisas.
Aprendi a ler mais, a me aventurar nos clássicos livros, a mergulhar nos clássicos filmes. Me acostumei a pesquisar as referências a cultura pop na série que eram absolutamente impossíveis de entender todas. Aprendi que tudo bem falar rápido, afinal, a vida é muito curta. Aprendi que meu vício por café também era algo de eu poderia até mesmo me orgulhar. Quando paro para pensar, Gilmore Girls faz parte da minha vida mais do que eu me lembrava e fico feliz de ter a oportunidade de ver e sentir tudo de novo.

Eu espero que essa série continue conquistando corações, moldando pessoas e nos mostrando as histórias mais simples e deliciosas que vida tem para oferecer. Espero que mais pessoas amem as Lorelais e todos os personagens deliciosos de Star Hollow. Espero que eles gostem – não precisa ser 100% do tempo- de Richard e Emilie e espero que essa série mude a vida das pessoas assim como mudou a minha. Espero que vocês amem Star Hollow como ela merece ser amada. Que compreendam toda a beleza por trás dessa série que nunca deixará se ser atual. Espero que vocês amem com o todo o coração essa série com enredo simples, diálogos afiados e lições de vida grandiosas.
Feliz 16º aniversário, Gilmore Girls. Espero que a festa tenha sido no melhor estilo Lorelai e que policia não tenha sido necessária dessa vez (embora agora todos sejam maiores de idade). Obrigada por tudo e nunca esqueça: Onde quer que você nos guie, nós iremos seguir.
“Live more,
laugh more,
eat more,
talk more
Gilmore".