Em 1973, a ditadura militar comandava o Brasil. O Pink Floyd lançava o aguardado disco The Dark Side of the Moon. E Giba passava os dias jogando futebol de botão com os amigos do prédio, suspirando por Leila, sua vizinha irreverente e descolada. Ele tentava ignorar o estado grave de seu pai, internado no hospital, e não sabia que a violência do governo estava muito mais perto da sua casa na Vila Mariana do que ele imaginava.
Até que, num dia tranquilo de março, ele acaba causando um acidente e se vê obrigado a lidar com um dilema moral que o fará abandonar a inocência dos dezesseis anos para sempre.
Preciso admitir que eu estava um pouco receosa quanto a esse livro, já que o enredo parecia ser bem diferente. Ele se passa em nosso país e em um época que nós sabemos que foi bastante turbulenta, a Ditadura Militar.
Contudo, após ler algumas páginas com a narrativa de nosso personagem principal, Gilberto Polatti, me encantei completamente.
Sabe aquele personagem engraçado, irônico, sagaz, pensador e que não é completamente bom, nem completamente ruim? Sabe aquele personagem tão bem construído, tanto em sentindo físico e emocional, que parece que é real? Sabe aquele narrador que faz com que você se sinta dentro da própria história? Pois bem, esse é Gilberto. Ou Giba, ou até Giges.
Bem, deu para perceber o quanto gostei dele, não é? Porém, mais do que gostar dele, eu gostei da própria história em si. Que preciso admitir, no começo eu demorei para entender. A narrativa nos apresenta primeiro às personagens, ao ambiente cultural e político da época e à situação de cada pessoa envolvida, para então, começar realmente o ‘drama’ que Gilberto está envolvido.
Como descrito na sinopse, sim, há romance. E alguns de vocês já sabem, por resenhas anteriores, que não sou muito fã de romances, contudo, sempre há aqueles que nos surpreendem. ‘Lua de Vinil’ foi um deles.
A história não gira apenas em torno do romance em si, mas muito mais que isso, ela trata de questões sérias, que até em nossa época, mais do que nunca, são necessárias. Fala de moral, de ética, de honestidade.
Até quando você é honesto? Quando você sai lucrando com isso, ou até quando você se prejudica? Quando apenas você sabe o segredo que pode trazer alívios a muitos, mas prejuízos a você, o que você faz? Ajuda ou renega?
O livro é cheio dessas questões que me fizeram refletir em vários momentos. É um livro que tem um ‘quê’ de mistério, que vai lhe encantando e lhe enlaçando, pouco a pouco, até que por fim, você acabou.
De verdade, recomendo muito a leitura. Um livro fácil e gostoso de ler, com uma mensagem que transcende as épocas.
"Lembrei da aula do Padre Fernando, na semana seguinte à minha exposição sobre Giges, um ano antes. É sob o manto da invisibilidade, disse ele, que se revela a verdadeira natureza moral de uma pessoa. [...] O que eu faria? Afinal, qual seria a essência sob o verniz que exibo aos outros? Na República, eu me lembro, os interlocutores de Sócrates argumentam que a virtude da justiça só é exercida sob algum tipo de constrangimento. Se o homem tiver a liberdade de escolha, vai sempre optar não pelo que for justo, mas pelo que for mais conveniente a ele." Página 71
Título: Lua de Vinil
Autor: Oscar Pilagallo
Editora: Seguinte
Páginas: 168
Ano: 2016
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