Apesar do atraso, aqui estamos nós com os comentários acerca dos dois últimos episódios da décima quarta temporada da série. O episódio da semana retrasada, Run, Chris, Run, tratou de nada mais nada menos do que o nosso Chris querendo ser candidato à rei do baile em sua escola e sendo eleito, mas não pelo motivo que poderia se imaginar. Acontece que, como Meg acaba esclarecendo, seu irmão foi eleito apenas por caridade dos alunos populares, que o consideram um estranho, para não falar outra coisa, o que até seria menos pior do que o que de fato acontece nas escolas com as crianças e jovens que não se enquadram nos padrões, como já estamos cansados de saber.
Claro que Stewie e Brian acabam tentando e falhando em ajudar Chris, que nem se toca do que se passa, se comportando como rei mesmo dentro de casa – mostrando que, como já era de se esperar do personagem, não entende nem mesmo o propósito de tal eleição. Enfim, episódio mediano, com algumas piadas acerca do grupo One Direction e sua mania de usar calças apertadas como se não existissem outros modelos e acerca de pessoas que, como Peter nesse episódio, roubam em games, daqueles da mais baixa resolução e cheio de bugs. Ah, falando nisso, houve uma segunda história, envolvendo Cleveland e sua irritação com a desfeita que Peter, Quagmire e Joe vivem lhe fazendo, mais especificamente aquela de não pagar a cerveja que tomam em grupo.

Assim, não sabíamos o que esperar ao certo para o último episódio, considerando que, se fizermos um balanço geral da temporada, provavelmente não classificaremos a maioria dos episódios como bom, mas sim de mediano para seguindo o padrão básico sem nada novo. E podemos dizer, após ver o episódio Road to India, que não houve nada muito diferente, apesar de o título, fórmula já utilizada muitas vezes pela série, indicar que algo seria de fato diferente. Tudo começa pela forma do episódio, que nos trouxe não somente Brian e Stewie, como era de se esperar, mas também uma história paralela sobre Peter se apossando da posição de Joe no bingo e roubando a cena como sempre, deixando seu amigo chateado e cabendo a Lois resolver tudo. Aliás, nem mesmo a maneira pela qual Lois resolve tudo é inovadora, principalmente se comparada àquele episódio em que prende Peter e sua turma no sótão, devido à teimosia de todos.
Enfim, dado já dois pontos pelos quais nada nem mesmo remotamente diferente – leia-se diferente mesmo, e não original, afinal, não busco deixar implícito que todos devem ser super originais e criativos o que, na verdade, é o problema do sistema econômico em que vivemos – é preciso agora, identificar o que achei interessante nesse season finale: a não nova, mas bacana desconstrução do clichê que é quase pré-requisito de Family Guy, que nunca deixa passar uma oportunidade para contrariar imagens superficiais que a mídia nos ajuda a construir sobre os outros. Isso porque, indo para a Índia encontrar a mulher cuja voz fez com que Brian se “apaixonasse”, Stewie e Brian passam longe de uma passagem idealizada pelo país, mostrando que nem tudo é exótico e diferente para quem lá vive, isto é, existe pobreza, existe péssima qualidade de vida e isso é visível, tanto na Índia quanto em qualquer lugar para quem souber observar o mundo que nos cerca.

E se caso alguém ainda não se convenceu disso tudo, Brian e sua história de amor vai direto para o buraco, o que faz todo o sentido, já que, infelizmente, o amor não supera, e não deveria mesmo, a falta de conhecimento – que não seja superficial – sobre a cultura da moça por quem se diz apaixonado. Ainda assim, mantendo o equilíbrio, o episódio aposta em um final que remete ao Bollywood, filmes produzidos pela cultura indiana, em que danças são comuns, o que não consiste em um clichê, mas, para quem quiser dar uma pesquisada melhor no assunto, é uma parte importante desta cultura, apesar das imagens senso comum que são transmitidas constantemente pela televisão e outras fontes de informação e que nos desviam do verdadeiro sentido do que lá é feito.
Assim, creio que a crítica ainda permanece imbuída na série, o que é, na verdade, o motivo responsável por fazer com que esta continue a ser renovada, embora a série precise já há um tempo de uma reformulação, como se nota pelo fato de a fórmula tradicional não ter trazido desta vez o que costuma trazer. Sei que não sou a pessoa indicada para fazer qualquer tipo de proposta aqui, mas acredito que todos concordam que uma possível reformulação não precisa envolver nenhum cachorro sendo atropelado e substituído, mas talvez uma mudança na cara da série, uma vez que a aposta em técnicas e fórmulas antigas deve ter um propósito, senão resta somente a mera repetição do que já se disse, sem nada adicional.