"É assim que a loucura do mundo tenta colonizar você: de fora para dentro, forçando a viver aquela outra realidade."
No garimpo, em um dos estandes mais cheios da Bienal do Rio, nesse ano, eu encontrei esse livro. A capa é maravilhosa (na verdade, todas as ilustrações do verso da capa como das folhas de guarda são incríveis) e quando li a sinopse, nem pensei duas vezes e botei na minha pilha. E foi uma decisão mais que certa.
A história está além do mistério, começando pelas suas personagens, que não tem nome e são conhecidas pelas suas profissões: A psicóloga, a antropóloga, a topógrafa e a bióloga. E essa última é a narradora de toda história. Com uma personalidade introspectiva, chegando aos limites da frieza, ela nos mostra com uma visão científica as impressões que ela tem acerca da Área X.
A exploração desse local, que é o objetivo da expedição, a cada passo se torna mais intricada e assustadora. Desde o momento que elas chegam lá, você sabe que tem algo errado ali e que muitas coisas ficaram não ditas da parte do Comando Sul (órgão governamental supersecreto responsável pelas expedições). Tantas coisas sem respostas, levam a questionar até que ponto é real o que está sendo descrito.
Essa impressão se fortalece pelo fato de estarmos vendo tudo através dos olhos da bióloga, que aos poucos vai revelando um pouco do seu passado e podemos começar a compreender seus verdadeiros objetivos para ter se voluntariado para essa missão. Ela parece ter uma extrema dificuldade em se conectar com as pessoas, sendo mais fácil ver a sua integração com a natureza e pelos seus intricados ecossistemas. É possível ao leitor, perceber ao mesmo tempo que a bióloga, que ela simplesmente deveria estar lá, aquele ambiente parece fazer parte de quem ela é.
Os sentimentos envolvendo a Área X me lembraram um pouco aqueles surgidos ao confrontar as criaturas de H.P. Lovecraft. A todo o momento, com cada nova descoberta, parece ligar o sensor do antinatural, do inumano, de uma força que quase não pode ser contida. Como se algo estivesse esperando o momento certo para analisar e destruir. É uma construção de medo muito peculiar, que preza pela ativação dos instintos naturais contra alguma coisa desconhecida.
Conforme as personagens avançam, a sensação de déjà vu aumenta, como se a natureza da Área X estivesse repetindo um ciclo, que só ela é capaz de entender. Os segredos sobre a realidade da própria fronteira ou das razões por trás do Comando Sul vão afetando diretamente a relação da bióloga com as companheiras, levando a um desfecho memorável. Esse livro faz parte de uma trilogia (Comando Sul) que já estou louca para continuar. Leitura rápida, mas intensa.
AUTOR: JEFF VANDERMEER
PÁGINAS: 200
EDITORA: INTRÍNSECA
LANÇAMENTO: 2014
ONDE COMPRAR: http://www.submarino.com.br/produto/119905333