No início da temporada, Bryan havia dito que o plot do Dragão seria complexo porque assim o personagem é. Perturbado, enfrentando uma verdadeira guerra dentro da mente e o ponto máximo desse conflito é quando ele vai ao museu e come a pintura do Blake. Você que está lendo essa review e ainda não teve oportunidade de ler os livros da série ou até mesmo ver os filmes, entendeu por que ele fez isso? Qual foi o objetivo de comer uma pintura? Provavelmente não e isso não é culpa sua. Muita informação ficou subentendida; informações importantes para construção do personagem.
Francis é um homem tímido, pequeno e sem jeito. Ele vê no Dragão vermelho a oportunidade de desabrochar; de se tornar algo grandioso. As mortes das famílias fazem parte desse processo. Ao conhecer a Reba, ele entra numa contradição entre seus sentimentos e sua mente. O mesmo homem que matou duas famílias inteiras, incluindo crianças e animais de estimação também teve sensibilidade de proporcionar a uma mulher cega a experiência de “enxergar” um tigre. Uma fera igual ao que ele está se tornando.
O mesmo homem que faz questão de ser reconhecido por todos como o Grande Dragão Vermelho é o mesmo que teve medo que Reba tivesse encontrado algo na casa que o associasse aos assassinatos enquanto ela passeava enquanto ele estava dormindo. Após passar a noite com ela, Francis é lembrado que sua prioridade não é se envolver emocionalmente com Reba, mas sim oferecê-la em sacrifício ao Dragão. Diante desse dilema, Dolarhyde decide ir ao museu cortar o mal pela raiz. Ao comer a pintura, a intenção era calar essa voz e salvar a vida da Reba. Dominar quem estava o dominando.
Nada disso ficou claro no episódio. Pra mim, esse é o ponto alto do plot do Dragão e na série ficou na base do subentendido. Uma parte tão importante que prova a complexidade do personagem deveria ficar bem clara e não ter ficado bem entendido apenas para uma parte limitada do público.
Outro ponto que não tenho gostado é a maneira como está sendo apresentado os momentos em que Francis é atormentado pela voz do Dragão. No telefonema que ele dá para Hannibal e este pergunta no que ele está se tornando, a voz do Francis muda. ESSA É A VOZ DO DRAGÃO! Essa voz conversa com ele. São diálogos explícitos no livro e que na série são apenas ruídos. Quem vê de fora, sabe que são monólogos, mas na mente do Francis é um diálogo. É real, é uma relação de senhor e servo. A série já provou tantas vezes que pode criar cenas dessa natureza, nas quais real e imaginário se misturam. Por que não fazer nesse caso?
Por que mostrar a relação entre Reba e Francis tão superficialmente se no começo da temporada alguns episódios foram apenas para encher linguiça? Não sei se pretendem explicar mais detalhes dessa relação nos próximos episódios e nem se há tempo para isso, mas esse terreno deveria ter sido bem preparado para então acontecer.
Outra relação que havia ficado em aberto e foi retomado nesse décimo episódio foi entre Bedelia e o famoso paciente morto durante a terapia. O que sabíamos até agora era que Hannibal havia influenciado Bedelia a assassinar seu paciente. As circunstâncias ainda eram um mistério. Num diálogo bem complexo, os flashbacks vieram intercalados nas cenas na sessão do Will. Só que diferente deste, o tal paciente não era tão ingênuo e perdido dentro da própria mente. Ao perceber que Hannibal não era psiquiatra convencional e que estava tentando deixá-lo mais doente, começou a ter dúvidas ao seu respeito. Porque Hannibal ao invés de curar, força seus pacientes a cruzarem a linha que separa os escrúpulos dos desejos irracionais. Ele fez isso com Will; ele fez isso com esse paciente; ele fez isso com Bedelia.
Por curiosidade, Hannibal insinua os seus desejos em outra pessoa e espera ver no que isso vai dar. Bedelia já foi um Will Graham. Deixou ser influenciada e quando chegou o momento de provar se iria cruzar a linha entre o insano e o profissional, ela provou que é tão insana quando o próprio Hannibal. Colocar a mão da boca do paciente era o que deveria ser feito para salvá-lo. Fazê-lo engolir a própria língua foi o cruzamento dessa linha tênua em que Hannibal trabalha. Resumidamente, Hannibal é o diabo! (Mas todos os que ele influencia também são um pouco diabólicos)
E esse diabo tem preparado outra armadilha para Will Graham. A ligação que Hannibal fez para o escritório do Chilton é para conseguir o novo endereço do Graham para dá-lo ao Dragão. Não precisa ser muito espero para saber o que ele fará com essa nova informação.