"I'm not that special. I'm just anonymous. I'm just alone."
Muita gente fala que a era de ouro da televisão está prestes a findar-se. Após o término recente de séries que levaram o público a loucura, e a crítica ao delírio, presenciamos a falta de fé nas novas produções, e principalmente nas exibidas atualmente. É sempre bom colocar que, vivemos essa fartura no ramo televisivo hoje graças as que revolucionaram em um passado não tão distante. Twin Peaks há quase trinta anos, Sopranos há quinze, resultaram em produções como Breaking Bad, Mad Men, e até a esnobada Sons Of Anarchy, que recentemente terminaram. Claramente essa fartura não quer dizer qualidade. Novamente implico com a falta de criatividade, a escassez de produções originais, resumindo a atual televisão mundial em adaptações, remakes, reboot, remakes dos remakes ... Mas sempre tivemos luz em meio a escuridão. Após ver Mr. Robot, eu percebo que essa era do ouro está longe de acabar.
Até onde podemos ir para criar uma estória original? A nova série da emissora USA, lembra em muitos aspectos a nossa última produção que esbanjou em termos de originalidade e qualidade, a nunca lembrada Utopia. A trilha sonora cheia de suspense, a fotografia, as atuações, e o mais importante de tudo, o roteiro que não cai na mesmice. Tudo é bem executado, e nada soa como uma conspiração fantasmagórica, atingindo seu principal objetivo, que é nos levar a crer que existe uma sociedade invisível a governar o mundo.
Elliot é apenas um engenheiro técnico que sofre com alguma desordem, o que o torna uma pessoa anti-social. A noite ele coloca sua capa e se transforma no justiceiro virtual, onde "hackeia" pessoas para descobrir seus piores segredos. Não vejo ele como um sociopata, até porque ele mesmo diz que sonha em salvar o mundo. Talvez um herói que necessita dessa sua justiça para preencher o vazio da sua alma. Pode soar meio egoísta, mas acho que encaixa bem.

A série me conquistou em sua linha narrativa, e creio que muitos notaram a semelhança com Fight Club. Em uma hora de duração, foram diversos monólogos fantásticos sobre a nossa sociedade, de como a corrupção afetou o nosso modo de viver. O modo como Elliot fala com o telespectador é incrível, conciso, nos deixando sempre prendido a cada frame. Em destaque, os seis minutos iniciais, que foram uma das coisas mais empolgantes que eu já vi. Apesar de sua duração um pouco extensa, o episódio passou voando. Além de Elliot, os personagens foram apresentados muito bem, não deixando algo caricato, desenvolvendo todos a altura.
Após nos introduzir em seu mundo, Mr. Robot nos conduz aonde queria chegar. Eu particularmente gostei mais da primeira parte, onde Elliot se mostra quase um esquizofrênico ao achar que está sendo perseguido, e quando a insatisfação é o motivo para acabar com as pessoas destrutivas da sociedade. Antes de chegar lá, a série brinca com o próprio Mr. Robot aparecendo em várias cenas, até chegar no ponto chave aonde entra em contato com Elliot e seu mundo. Desde o inicio Elliot deixa claro que não faz a sua justiça por dinheiro, e é quando isso entra em conflito após saber do plano principal em que ele é envolvido.
Meu parecer final é que a série tem muito potencial para dar certo, mas tem uma probabilidade no mesmo nível de cair no clichê e dar errado. Se for seguir a linha conspirativa da "Evil Corp", a sociedade invisível, a perseguição ao justiceiro anônimo que acha estar pirando, deve manter no mesmo nível do piloto. A série pode até utilizar de casos procedurais para firmar o seu núcleo principal, para conseguir evitar rodeios na trama, principalmente na sua reta final. A princípio ela segue o formato de minissérie, mas se a audiência agradar, provavelmente será renovada para uma nova temporada. Recomendo muito a todos que gostam de uma boa conspiração e diálogos precisos. Nos vemos em breve, se não formos "hackeados", claro.