“Livre” é aquele tipo de filme que após assistir o trailer se acha que é um filme mediano mas quando finalmente você o assiste é surpreendido com um filme simples, cru e profundo, que te deixa maravilhado no final. Não é somente um filme sobre uma mulher fazendo uma trilha para tentar superar algumas baixas da vida é também uma reflexão sobre a vida.
A vida de Cheryl Strayed é um trem desgovernado, não conseguindo lidar com a morte precoce de sua mãe ela se entrega as drogas e ao sexo com estranhos, e esses vícios acabam custando a ela seu casamento. Totalmente acabada e sem rumo, ela decide trilhar a Pacif Crest Trail, uma trilha com 4260 km que cruza os Estados Unidos desde a fronteira do México até a fronteira com Canadá, aproveitando o tempo sozinha com a natureza para colocar sua vida nos eixos.
O filme surpreende por mostrar não só as partes lindas da viagem, como as pessoas maravilhosas que ela encontra na trilha que acabam somando a sua superação, e claro pelas lindas paisagens que ela passa, mas também por mostrar o lado cruel da viagem, as intermináveis horas de caminhada pelo calor, chuva ou neve, os danos físicos causados pela trilha. O filme já começa com a cena dela arrancando uma unha, e vemos também sua dificuldade em cozinhar, montar uma barraca, carregar sua gigantesca mochila, enfim, um filme que realmente mostra a viagem como ela realmente é, não aquela coisa fácil e linda que Hollywood sempre tenta nos empurrar.

Cheryl enfrenta a trilha ao mesmo tempo que enfrenta seus “demônios”, vemos em flashback o fim de seu casamento, seus vícios e a relação que ela tinha com sua mãe, e como ela sempre tenta imitar suas antigas manias para se sentir mais perto dela. Ela ao mesmo tempo sofre e tenta digerir tudo de ruim que estava acontecendo com ela. E a simbólica raposa que ela continua encontrando pela trilha.
“Essa é a minha vida, só estou dando um tempo dela.” É exatamente o que ela tinha que fazer para colocar sua vida no lugar. Acho que todo mundo deveria dar um tempo da sua vida e ter uma viagem dessas, uma viagem de superação e auto descoberta. Claro que eu não estou dizendo que devemos fazer uma trilha dessas, eu teria desistido na hora de colocar a mochila nas costas, mas encontrar um momento de solidão e calmaria para enfrentar os nossos próprios “demônios” nos ajudaria muito. Para Cheryl foi a trilha, para mim poderia ser um mês em viagem sozinho para outra cidade, não sei, ainda não encontrei a minha forma de escape, mas todos nós deveríamos seguir seu exemplo.
Reese Wintherspoon está fabulosa na sua interpretação, ela deveria escolher mais filmes assim e menos comédias românticas para estrelar. Laura Dern está deslumbrante e livre em seu papel, tão confortável que é prazeroso vê-la em cena. As duas mereceram muito as indicações ao Oscar, mas acho difícil alguma delas levar a estatueta para casa.
A fotografia é majestosa embora o local ajude bastante, pesquisei bastante sobre a trilha após ver o filme pois a sua beleza realmente me cativou. A direção do filme é impecável, mas o que esperar do mesmo diretor de “Clube de Compra Dallas”? Vallée realmente está querendo colocar seu nome entre os grandes de Hollywood.
Um filme que nem merece, ele DEVE ser visto, tão agradável e emocionante quanto “Na Natureza Selvagem”, impossível não compará-los, é um filme que agrada e surpreende muito. Se entregue a viagem de Cheryl e se deixe iluminar por suas descobertas.
"Negando suas feridas. Negando que suas feridas vinham do mesmo lugar que sua força."