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O enredo principal começa a ser narrado durante a recuperação, tanto mental quanto física de Val, que tenta superar o trauma, a perda do namorado e a lidar com as situações as quais ele seria imposta a partir de então. A narrativa entre o presente o passado, nos mostra as memórias, as lembranças da Val de hoje, a Val depois do trauma. Quando ela se questiona sobre ser culpada e inocente, você acaba fazendo o mesmo e esses diálogos internos são desestruturantes porque é possível ver o quanto ela está perdida. Nick, por sua vez, não pode ser interpretado como um garoto mal, necessariamente, uma vez que a narrativa e as lembranças da Val nos mostram outros pontos sobre ele.
Os amigos de Valerie, a reação dos alunos da escola, como eles reagem quando ela volta pra lá, é algo angustiante. O pai da Valerie me fez sentir náuseas, a mãe dela estava tanto quanto ou mais perdida que a filha. Tudo é tão triste, escuro na narrativa que é, sim, angustiante. E cada personagem traz um ponto de vista das coisas que aconteceram e nós, leitores, somos convidados a pensar nas consequências de ações e pequenas que tomam proporções gigantes e somos convidados a pensar sobre culpa e inocência de uma forma quase cruel. Dr. Hieler e Bea são figuras a parte dentro da obra e eu me encantei por eles, pela compreensão e alegria que estes personagens conseguiram transmitir em meio a tanta tristeza. A gama de emoções que todos os personagens envolvidos na obra me fizeram sentir, foi algo inacreditável. Eu senti compaixão, compreensão, raiva, revolta, eu me apeguei, eu senti pena. Eu senti.
Antes de falar da obra, preciso salientar que a li em pdf, pois ainda não possuo o livro. Mas já venho babando a meses nele na livraria e devo dar meus parabéns a editora. A diagramação do livro é excelente, as páginas são perfeitas, achei elas um pouco mais grossas que as convencionais, além do design da capa ser infinitamente mais linda e trabalhada que as capas internacionais.
Quando eu o li, eu o fiz com lágrimas nos olhos e na resenha, eu faço o mesmo. Não consegui manter minhas impressões somente nessa parte, elas se fizeram sentir nos parágrafos acima também. E eu acho, com toda a sinceridade do coração, que este livro deveria ser leitura obrigatória. O que eu senti lendo esse livro foi algo inexplicável. A narrativa em primeira pessoa nos mostra o foco em Val e em como ela se sentia e como tudo era complicado para ela, mas também nos mostra o que há ao redor. Toda a redoma invisível de sentimentos e confusões que acometem quem é vítima de uma violência muitas vezes ignorada, muitas vezes tratada como algo inocente. Bullying é coisa séria e merece ser tratada como tal. E a forma como Jannifer Brown trabalhou o assunto foi absurdamente fantástica. Foi brutal, foi dura, mas foi fantástica.
Acho que a dor e os medos aproximam as pessoas, e pudemos ver isso com Val e Nick. O sofrimento de ambos e a cumplicidade que isso gerou, aproximou os dois e acabou culminando em uma tragédia. Val é culpada ou inocente? Sinceramente, não cabe a mim o julgamento, não cabe mim dizer o que ela é, cabe a mim dizer que ela já foi julgada o suficiente e dividiu opiniões o suficiente durante a narrativa. As páginas do livro são carregadas de sentimentos e eu me senti numa montanha russa e numa confusão mental a um ponto que eu terminei a leitura questionando o que eu era e o que eu fazia. E acho que esse foi o ponto de Brown, fazer as pessoas se questionarem e entenderem que seres humanos são complexos em sua essência, e essa complexidade numa pode ser entendida como algo fixo e por apenas um ponto de vista.
Não consigo encontrar palavras que expressem o caminhão de emoções que é fazer essa leitura e o quanto de coisas você passa a reavaliar com ela, seria simplório dizer que o livro é bom. Ele foi minha melhor leitura de 2014 e, com certeza absoluta, ele está entre meus livros favoritos da vida.
A escrita de Brown é simples, é envolvente e é difícil não se encantar por ela, se é possível e correto eu sair daqui dizendo para vocês que me apaixonei por esse livro eu não sei. Não me levem a mal e não me julguem por gostar de algo tão violento. Leiam, sintam e me entendam. A Lista Negra, mais do que tudo, é um convite para abrir os olhos, o coração e se auto questionar. E eu aviso antes, valerá a pena.