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Title: [C. NERD] RESENHA - PRIMAVERA SILENCIOSA
Author: Diário de Seriador
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"Este é um livro para saborear: não pelo lado negro da natureza humana, mas pela promessa de possibilidade de vida".(Pág. 19) ...
"Este é um livro para saborear: não pelo lado negro da natureza humana, mas pela promessa de possibilidade de vida".(Pág. 19)

Raramente um único livro altera o curso da história, mas Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, fez exatamente isso. O clamor que se seguiu à sua publicação em 1962 forçou a proibição do DDT e instigou mudanças revolucionárias nas leis que dizem respeito ao nosso ar, terra e água. A preocupação apaixonada de Carson como futuro de nosso planeta reverberou poderosamente por todo o mundo, e seu livro eloquente foi determinante para o lançamento do movimento ambientalista. Este notável trabalho de Rachel Carson foi considerado em 2000, pela Escola de Jornalismo de Nova York, uma das maiores reportagens investigativas do século XX. (Retirado do Skoob)


Este livro, maravilhoso livro, é diferente em sua narrativa. O enredo básico do livro é a forma como os pesticidas, inseticidas e demais produtos químicos criados pelo homem alteram e prejudicam a vida deste mesmo. Os personagens? Nós. Nós, seres humanos, somos protagonistas dessa triste realidade que atinge e que atingiu de forma ainda mais forte com o uso do DDT, a história dos seres humanos. Graças a esta obra de Carson, uma verdadeira revolução foi iniciada em relação ao uso de tais produtos. Trazendo dados de diversas pesquisas realizadas por vários pesquisadores em diversas partes do mundo, ela nos mostra que o uso de tais produtos químicos podem ter efeitos mais nefastos do que imaginamos. Mas, principalmente, Carson nos mostra um fato claro: A relação homem e natureza precisa mudar, precisa ser revista e, mais do que tudo, precisa que todos tomem consciência de que algo, a muito tempo, está errado. 


Se existe um livro que eu, como futura bióloga, sempre ouvi na faculdade que todo biólogo precisa ler foi Primavera Silenciosa. E eu procrastinei a leitura dele e hoje me arrependo demais por ter feito isso, existem livros que precisam ser lidos porque as palavras passadas nele precisam ser repassadas ao maior número de pessoas possíveis. Carson pode ser incluída nessa lista facilmente, alias, ela precisa estar incluída nesta lista.

O que mais me assustou nesta obra, foi perceber que o livro foi publicado em 1962 e quando o li, percebi que ele ainda é recente em sua narrativa. O que não poderia ter acontecido. É claro que muito mudou, o DDT foi proibido, mas, agrotóxicos continuam, produtos químicos novos são criados todos os dias e nós, nessa ânsia de querer tudo o mais rápido possível, sem se preocupar com consequências, perdemos o hábito de questionar o que está errado. 

Não é uma leitura fácil, na grande realidade, talvez tenha sido umas das leituras mais difíceis que fiz no sentido de que: tudo aquilo aconteceu. Os relatos, os dados, as mortes causadas pelo DDT e outros produtos químicos não são histórias fictícias inventadas para impressionar, são dados reais, de mortes reais,  e as discussões levantadas na obra não podem ser esquecidas.  

Existem raros livros que são capazes de mudar o curso da história de alguma forma, e fico feliz que Carson tenha dado sua cara a tapa para gritar ao mundo que tudo estava errado. Que ela tinha tido a coragem, que a muitos falta, de mostrar ao mundo tudo que ela via de errado. E fico ainda mais feliz que as pessoas tenham entendido sua mensagem e que algumas coisas tenham mudado, que mais pessoas preocupadas com o meio ambiente tenham surgido e que discussões de caráter ético tenham sido levantadas sobre o assunto. 

Quando paro hoje para escrever essa resenha, percebo que pouco consigo falar sobre o livro, porque tudo parece pequeno quando comparado ao que essa leitura intensa me fez sentir. Quando Carson começou a escrever o livro em 1958 ela sabia a briga que estava comprando, era o David e Golias da época. Rachel adquiriu câncer e a sua produção ficou parada por certo tempo, porém, ela não desistiu e a publicação do livro ocorreu em setembro de 1962. Após a publicação diversos países proibiram a comercialização do DDT  como Hungria (1968), Noruega e Suécia (1970) e Alemanha e Estados Unidos (1972), porém, no Brasil sua comercialização foi proibida apenas em 2009, quando o então presidente Lula sancionou o projeto de lei do, então, senador Tião Viana. 

A obra é rica demais e seus frutos também, para que eu consiga acoplar tudo em uma única resenha, porém, a forma como o homem coisifica qualquer coisa que este considere inferior é um tema central e que precisa ser refletido. Não se mexe em um ecossistema eliminando aquilo que os seres humanos consideram como "praga" e espera-se que nada de negativo ocorra em retorno. A cadeia da vida é complexa demais para fingirmos que somos superiores o suficiente para que nada aconteça. 

É fácil ser a favor da preservação quando falamos de animais bonitinhos, algo que minha professora de Biogeografia chama de "fauna carismática", e de como eles precisam serem preservados. O que é preciso notar agora, é que eles não se mantém sozinhos. Existe uma cadeia de inter relações complexas demais para serem esquecidas onde cada organismo, por menor que seja, tem sua função. É fácil se dizer superior e esquecer que sem estes organismos os seres humanos nem respirariam. É preciso que aprendamos que o meio ambiente é completo em sua diversidade e esta, como um todo, precisa ser respeitada.

Produtos químicos que eliminam pragas tem seus efeitos em toda uma cadeia alimentar, e não apenas nos organismos que se visa eliminar e, vamos debater entre nós? o que é uma praga? O ser humano interfere demais no curso da história e no planeta em si, para se considerar isento de qualquer culpa.

Nada no livro é dito de forma leviana, os efeitos do DDT e dos demais inseticidas e pesticidas utilizados são trazidos quase na forma de um dossiê, que aperta na ferida das indústrias produtoras de tais elementos, que ignoraram ou consideram ínfimo os efeitos negativos que tais produtos poderiam ter na fauna e na flora. Mas, também, ela nos mostra que os seres humanos são atingidos de forma tão agressiva quanto o alvo real do inseticida. Os efeitos de tais produtos químicos nos seres humanos são nefastos, indo de danos no DNA que podem ser passados, por consequência, as futuras gerações, até a morte quando o nível de contaminação é mais elevado.  

Carson nos propõe tais discussões e eu indico vocês a leitura desta obra, seja você biólogo ou não, preocupado com a natureza ou não, ambientalista ou não. Este livro mudou minha forma de ver muitas coisa e eu espero, de coração, que ele mude a sua também. 

 "A obrigação de suportar nos dá o direito de saber”
Rachel Carson, pag. 16. 


AUTOR:Rachel Carson
NÚMERO DE PÁGINAS: 328
EDITORA: Gaia
LANÇAMENTO: 2010
ONDE COMPRARClique aqui.   
29 Dez 2014

Sobre o Autor

 
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