“Não se pode parar de lutar por aqueles que você ama. Você
já teve que lutar por alguém que ama?”
The Normal Heart é um telefilme da HBO sobre os primeiros e
difíceis anos da descoberta da AIDS, recheado de artistas consagrados não só
nas séries como nos cinemas como Mark Ruffalo, Julia Roberts, Matt Bomer, Jim Parsons,
Jonathan Groff, entre outros. O filme é baseado na peça teatral homônima de
Larry Kamer, responsável também pelo roteiro do filme e tem direção de Ryan
Murphy (Glee, American Horror Story, Looking). Teve sua estreia na TV americana
no dia 24 de maio e sua estreia no HBO brasileira será no dia 31 de maio às
22:00h.
O início dos anos 80 foi uma época de liberdade para os
gays, boates gays brotavam, casas especializadas ao público alvo também e não
pode esquecer o consumo que os gays geravam para a indústria de comércio de
modo geral. Mas e quando do nada gays começam a morrer de uma doença nunca
vista antes? E quando essa doença não atinge nenhum outro grupo? E quando se vê
amigos morrendo dia após dia e o governo e a população de modo geral não faz
nada para mudar isso?
Esses questionamentos e muitos outros acabam caindo na vida
de Ned Weeks (Mark Ruffalo), um escritor conhecido por não ter papas na língua,
gay assumido e que acha que a mudança só ocorre quando se faz barulho. Por
muitos momentos é aquele que seus amigos evitam para discutir com autoridades a
respeito dessa tal doença desconhecida, mas que ironicamente, é o único com
coragem o suficiente para se expor numa situação complicada dessas.

Se no ano de 2014 já é difícil se assumir gay numa sociedade
extremamente machista e homofóbica, imagine nos anos 80, com o tal “câncer gay”.
A TV e o cinema ultimamente resolveram não mais negligenciar esse assunto, com
diversos filmes e séries sobre gays, descobrimentos, homofobia, dúvidas,
aceitação, mas quando o assunto é AIDS, como foi o início da doença e todos os
problemas que ela causou aos gays, pouco se é falado. E é exatamente sobre isso
que The Normal Heart trata, como a sociedade pode ser e é cruel quando o
assunto se trata de minorias, como é difícil lutar por algo até mesmo dentro do
seu grupo.
Mais que luta sobre o "câncer gay", Ned clama por igualdade, essa igualdade que até hoje não encontramos. A igualdade de quem foi criado da mesma forma que seu irmão mais velho, Ben (Alfred Molina), que frequentou as mesmas escolas, teve os mesmo problemas com seus pais, mas que um é gay e o outro é hétero. A igualdade está lá, sempre esteve mas é difícil de enxergar, mais ainda, admitir que realmente são iguais e ao final, o abraço de irmãos, enfim Ben entendeu que tudo ali não se trata só sobre ser gay ou nao, é sobre seu irmão que ama alguém como ele próprio ama sua esposa, é sobre amor.
Ned é um homem que está cansado de tentar resolver as coisas
de forma pacífica, de sorrir e assentir com a cabeça para as políticas voltadas
para a descoberta dessa doença. Ele quer fazer barulho e o faz, chamando
atenção da imprensa para o problema, desafiando figurões políticos que ainda se
encontram no armário. No meio disso tudo ele não está só, ele conta com a ajuda
da médica Emma Brookner (Julia Roberts), uma mulher que luta como pode para
conseguir recursos e apoio para pesquisas sobre essa nova doença. E também dos
seus amigos que decidem criar uma organização para (tentar) lidar com todos os
problemas que o câncer gay (nome dado à AIDS na época) trouxe para todos.

Toda revolução é necessário um líder e Ned nunca se viu como
um, ou até mesmo nem quis ser um, mas quando notou a omissão e o medo dos
outros em se expor ele tinha que fazer isso não só por ele, mas pelos seus
amigos que morreram, os que ainda irão morrer e principalmente ao seu amor,
Felix Turner (Matt Bomer). Muitas vezes a batalha era travada só, porque quando
até pessoas que deveriam lutar pela causa se omitem, a vontade de desistir
pesa. Mas mais que revoltado com tudo, Ned e sua teimosia prevaleciam e por muitas
vezes conseguiam chamar os holofotes para si e o conseguir algo de importante
para a causa.
De um lado Ned e sua revolta, do outro o racional e passivo
Bruce Niles (Taylor Kitsch). Bonito, militar, simpático, todos queriam (até
eu), pouco polêmico, enfim, tudo o que a comunidade gay precisava no momento,
que era alguém para mostrar a todos os outros que eles eram e são pessoas
iguais aos outros, que eles não são espalhafatosos, chamativos e todos esses
estereótipos que se encontram até hoje. A maioria gay acreditava que lutar sem
chamar a atenção dos outros era mais importante do que tocar na ferida como Ned
fazia. E o roteiro faz questão de esfregar na nossa cara quando tendemos a questionar se toda essa rebeldia de Ned é realmente necessária para a causa.

O filme que podia muito bem ser passado nas telas de cinema
pelo mundo afora, de tamanha qualidade nas atuações que os atores conseguiram
mostrar realmente todos aqueles problemas da época de uma forma real. Do
roteiro que construiu de forma brilhante as motivações de todos os personagens
e os seus respectivos medos quanto aqueles acontecimentos. A direção que
conseguiu de forma espetacular dirigir cenas difíceis que poderiam passar por
vulgares ou obscenas, mas que passaram por amor, simples e puro. Enfim, tudo
funcionou da forma correta e que ao final ainda nos deixa com alguns
questionamentos posteriores.
P.s.*: Não me admirará nenhum pouco The Normal Heart rapar todos
os prêmios desse ano na categoria
Telefilme.
P.s.**: Uma salva de palmas para Mark Ruffalo que entregou
um personagem muito bem feito e para Matt Bomer que emagreceu vários quilos
para viver o aidético Felix.
P.s.***: Jim Parsons também atuou na peça teatral como o
mesmo personagem do filme.
P.s.****: Brad Pitt ultimamente tá engajado nos bastidores,
em The Normal Heart ele é produtor do filme.