Artístico, relevante e afrontador, Praia do Futuro retrata o amor entre duas pessoas desafiadas por suas escolhas e medos.
Iniciando sua trajetória na praia que dá nome ao filme, em Fortaleza, Donato (Wagner Moura) surge como um Salva-Vidas que tem sua primeira perda na profissão e se vê atormentado por isso.
Logo de cara Donato inicia um romance com o amigo do homem que ele devia salvar, Konrad (Clemens Schick), e já podemos constatar o primeiro ponto forte dessa trama.
Ela não se trata dos “como” e sim os “o que”. Por exemplo, não sabemos ao certo como eles começaram a se interessar, o Diretor apenas corta para a cena seguinte e vemos ambos fazendo sexo.
Vale ressaltar que estas cenas, mesmo fortes, não são gratuitas, servem para o propósito do filme em mostrar a vida de um casal, nos deixando mais próximo deles.

Uma pena que na cabine haviam alguns pseudos liberais que aplaudem um beijo na novela das 8, mas acham excessivo ver sexo e por isso foram embora durante o longa.
Azar o deles por não perceberem o respeito do com o qual o Diretor retrata relacionamento de ambos, sem entrar na questão da homossexualidade e focado apenas na história de amor de duas pessoas que decidem ficar juntos.
A fotografia é uma obra a parte, mostrando as diferenças entre as cores vivas e quentes da praia, sempre com planos abertos, ressaltando a liberdade daqueles personagens, enquanto em Berlin há uma atmosfera mais fria, com cores saturadas e planos focados nos rostos dos personagens, mas nem por isso mais triste.
Muito pelo contrário, é lá que Donato se redescobre e tem que tomar decisões como abandonar a família, arrumar uma nova vida e por aí vai.

Genial também é a relação entre os personagens e a metáfora com heróis, todos eles tem um codinome heroico, Donato/Aquaman, Konrad/Motoqueiro Fantasma e Ayrton(irmão de Donato)/Speed Racer.
Ayrton este que é interpretado magistralmente por Jesuita Barbosa, sua intensidade em tela é notável e sua tatoo de tigre mostra bem a personalidade do casula, roubando a cena na terceira parte do longa e mostrando sobre quem de fato a história fala e o verdadeiro herói.
A cena final é emblemática e igualmente linda, quando vemos todos andando de moto por uma estrada enquanto Donato realiza um monólogo em off. Reparem a névoa da estrada dialogando com o que o filme se propõe, dando vários caminhos obscuros, mas com passagem livre para se aventurar.