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mariana mariana Author
Title: [TEMÁTICA DDS] RELAÇÕES E SOCIEDADE
Author: mariana
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O ser humano possui muitas necessidades, sendo uma delas a da comunicação com os demais, afinal, vivemos em sociedade e necessitamos d...

O ser humano possui muitas necessidades, sendo uma delas a da comunicação com os demais, afinal, vivemos em sociedade e necessitamos de relações com outras pessoas. Porém não podemos ignorar que esse mesmo ser humano é cercado de individualidade e necessidades profundas, que muitas vezes não são satisfeitas, trazendo o tédio e a falta de perspectivas. Assim, quando falamos em relações humanas devemos considerar dois aspectos do ser humano: o individual e o social, sendo ambos necessários, mas muitas vezes difíceis de conciliar. 

Começando pelas necessidades naturais do ser humano, podemos estabelecer a primeira delas, que é o contato com outros da mesma espécie, e, assim, vemos que uma das necessidades básicas e individuais do ser humano envolve o social. Como conciliamos então o individual com o social? O sentimento que reúne esses dois aspectos é nada mais nada menos do que o amor, seja pela família ou amigos (fraternal) ou por alguém pelo qual se apaixona (erótico). Isso ocorre porque o ser humano se realiza através do amor, tanto em seu interior, quanto com outra pessoa, ao contrário de outros sentimentos como o ódio, em que o ser humano se retira de uma relação saudável com o outro, e ao fim, até mesmo consigo mesmo. Aqui cabe estabelecer um paralelo de que existe até mesmo a incapacidade de relacionamento com o mundo, o que poderia estar representado até mesmo na loucura, sendo essa, então, a falha do ser humano em se comunicar com o mundo. 

Assim, ocorre a representação do relacionamento humano por meio do amor em filmes como As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu de Lloyd Kramer e Estão Todos Bem de Kirk Jones (II). No primeiro filme, Eddie (Jon Voight) trabalha em um parque de diversões até sua velhice, e depois de sofrer um acidente que culmina em sua morte, passa por uma experiência em que revê a trajetória de sua vida por outro ponto de vista, em que nota a importância e influência em sua vida dos relacionamentos que estabeleceu com as pessoas, mesmo que alguns deles sejam curtos e sem muita importância em sua visão. É interessante notar que o personagem sai de um momento em que sua vida parecia não ter sentido para uma reflexão sobre como as pessoas que importavam para ele foram as que fizeram a diferença e a alegria em sua vida. Já no segundo filme, o caminho é contrário: Frank (Robert De Niro) passou a vida trabalhando para sustentar seus quatro filhos, e depois de viúvo decide fazer uma visita às suas casas. Porém, acaba notando que não sabe nada sobre a vida real de seus filhos, que ama tanto e julgava conhecer completamente. Também há o filme Intocáveis de Eric Toledano e Olivier Nakache, em que a amizade surge entre duas pessoas completamente diferentes, sendo uma delas Philippe, um senhor rico que sofre um acidente e acaba tetraplégico. Ele então contrata Driss, um jovem com vários problemas que não condizem com sua realidade, para ao ajudar. Assim, o amor estabelece a relação entre família e amigos, e seja de uma maneira ou de outra, é esse sentimento que liga uns com os outros.


Também há exemplos do amor entre os apaixonados, por assim dizer. Em qualquer filme que envolve romance entre casais podemos ver o amor nas relações sociais. Porém um filme que me chama bem a atenção nesse caso é Closer – Perto Demais de Mike Nichols, em que a dinâmica amorosa entre quatro pessoas acaba sendo intensa e transformadora. Assim, o amor não só estabelece relações perfeitas, mas também mostra a imperfeição do ser humano na tentativa de se relacionar com o outro. Essa imperfeição é vista também em séries como Six Feet Under e Supernatural, em que as relações entre família e irmãos não se mostram sempre ideais, mas, por mais contraditório que pareça, é na imperfeição e no entendimento dessa imperfeição que se estabelece a durabilidade dessas relações. Por vezes, essa imperfeição pode até mesmo ser levada ao patamar polêmico, como em Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci, em que até mesmo o incesto ganha lugar em meio a experiências vivenciadas por três jovens. 

Podemos nos centrar ainda em outro patamar do relacionamento humano, tomando o homem como o agente transformador da realidade em que vive. Dessa maneira, a partir de seus sentimentos e relações com o outro, o homem pode agir e modificar sua vivência em busca do desenvolvimento de suas potencialidades e tendências. Uma de suas tendências, por assim dizer, são todos os outros sentimentos que vêm a partir do amor. Porém, o ser humano também tende muitas vezes ao ódio, com ou sem motivação e justificativa. Em geral, é daí que surgem os desentendimentos, as rivalidades, a divisão entre lados e a guerra entre povos. Assim, vemos no meio artístico muitas representações dessas épocas de guerras, nas quais a maldade humana vêm à tona, como até mesmo em Game of Thrones, em que apesar de toda a história se passar em outra realidade, é apresentada uma possibilidade de pensar que em situações de medo e tensão causadas pela guerra podemos conhecer o lado mais sombrio do ser humano. Apesar disso, a representação de guerras caminha muitas vezes para mostrar que mesmo em meio a situações causadas pelo ódio há relações motivadas pelos sentimentos advindos do amor, tais como nos filmes O Resgate do Soldado Ryan e principalmente A Lista de Schindler ambos de Steven Spielberg. São filmes emocionantes que nos mostra, apesar de toda a circunstância da guerra, o sentimento de preocupação e compaixão pelo outro, e principalmente a motivação que guia os personagens. Assim como nesses filmes, as minisséries Band of Brothers e The Pacific também vão pelo mesmo caminho, contanto histórias de soldados que participaram de combates e que permaneceram juntos por um sentimento maior, o de amizade, que mesmo contra todas as expectativas vindas de uma guerra desumana, é o que mantém os soldados unidos. Portanto, há um movimento que nos mostra a tendência ruim do homem, e ao mesmo tempo, a existência de um sentimento unificador em meio a essas circunstâncias criadas pelo próprio homem. 

Não somente guerras trazem essas tendências ruins e boas dos homens, mas também situações inusitadas, imprevisíveis e para alguns, até mesmo impossíveis, como, por exemplo, o fim do mundo, ou apocalipse. Assim, em obras de José Saramago, tais como Ensaio sobre a Cegueira e A Jangada de Pedra, vemos personagens se comportando de diversas maneiras em vista a uma cegueira coletiva e ao deslocamento da península Ibérica do resto da Europa. Há tanto situações que mostram a podridão humana, como situações em que a união representa a melhor maneira de sobreviver em meio a uma situação impossível de se controlar. Semelhante aos livros de Saramago vemos séries como The Walking Dead, em que o apocalipse zumbi se mostra uma verdadeira prova de convivência social, e filmes que apresentam o apocalipse tradicional, por vezes de maneira até escrachada e irônica, como em É o Fim de Seth Rogen e Evan Goldberg, no qual as celebridades do cinema norte-americano se revelam de maneira egoísta e nada como pensaríamos que seriam, tudo de maneira cômica. 


Outra realidade representada em livros, filmes e séries, é a do caráter social que o ser humano deve possuir. Esse caráter social seria o nosso entendimento sobre como nos portarmos em meio a nossa cultura, ou seja, conforme a cultura exige. Assim, muitas vezes, acabamos por nos comportar de maneira passiva e conformista frente a nossa realidade cultural e social, pois a cultura de um povo oferece soluções para as mazelas criadas por ela mesma, convencendo a população de que sua vida é boa e normal. É por isso mesmo que, frente a sociedade capitalista, exploradora e conformada, surge o socialismo como suposta solução para o fim da alienação humana. É dessa maneira e em meio a essas questões que envolvem estruturas econômicas e sociais, que observamos a existência de filmes de cunho político ou simplesmente crítico, que se referem tanto a um sistema em geral, quanto a características específicas do comportamento humano em sociedade. Exemplos disso são os filmes Edukators de Hans Weingartner e Dogville de Lars Von Trier. No primeiro filme, um grupo de jovens invadem casas de pessoas ricas e retiram todos os objetos e móveis do lugar, assustando e tirando de sua comodidade as pessoas que compactuam com um sistema injusto. Ao longo do filme há toda uma discussão sobre toda essa situação de exploração de uns sobre os outros e do que seria correto na sociedade. Já em Dogville, há toda uma reflexão acerca do egoísmo e crueldade do ser humano, que se mostra em uma pequena comunidade, que trata Grace (Nicole Kidman) de maneira injusta. 

Há muitos outros filmes e também livros que lidam com críticas sociais. Laranja Mecânica de Stanley Kubrick e O Show de Truman de Peter Weir, fazem uma crítica mais precisa na questão do sensacionalismo, e como isso pode arruinar as relações dentro de uma sociedade. O filme Sociedade dos Poetas Mortos também de Peter Weir, lida com a questão da pressão social que se coloca nas pessoas, não permitindo que elas façam o que gostam e desejam, pressão essa que vem inclusive de pensamentos voltados à cobiça e desespero pelo dinheiro e do egoísmo. 

Já livros como O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald e A Revolução dos Bichos de George Orwell fazem uma grande crítica à sociedade em que as pessoas ignoram o outro, os sentimentos das demais pessoas que a cercam, e só pensam em explorar e se beneficiar, o que se parece muito com nossa sociedade atual, quando paramos para pensar bem. O segundo livro, além de tirar o encanto de Babe, o porquinho Atrapalhado, é quase que uma metáfora para a nossa sociedade, em que a ganância e ambição leva as pessoas cada vez mais longe, fazendo-as até mesmo perder a noção do que seria o certo e o que seria o errado, o humano e o desumano. 

Por fim, podemos ver que as relações humanas e o indivíduo são opostos em vários sentidos, pois afinal, como podemos ser individuais e coletivos ao mesmo tempo? É uma questão muito complexa, que o presente texto procurou somente apresentar. Podemos pensar nessa questão e mesmo assim será difícil chegar a uma conclusão exata da profundidade do homem e de seu comportamento. O que podemos concluir, é que estruturas sociais e situações influenciam o homem e o homem influencia situações e estruturas sociais. É tudo um ciclo de complexidade, que envolve relações motivadas pelo amor e pelo ódio, pela amizade e pela tentativa do homem de desenvolver, seja seu melhor lado ou o pior. Creio que os filmes, livros e séries aqui apresentados exemplificam muito bem os diversos tipos de relações humanas, sempre lembrando do fato que na verdade, qualquer livro, filme ou série, tem como base o homem em relação com outro homem, assim como em nossa realidade, em que a partir do momento em que nos levantamos, começamos a nos envolver com o mundo e a desenvolver nossas capacidades. Ainda indico mais dois filmes que podem estimular a reflexão acerca do tema: Lili Marlene do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, no qual a guerra e a questão dos judeus e alemães acabam interferindo na relação de um casal, e o O Homem Elefante de David Lynch, em que a deformidade de um homem o leva a passar por situações degradantes, devido ao preconceito e não aceitação da sociedade. 

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