Comentários
Daniel Oliveira Daniel Oliveira Author
Title: [REVIEW] TRUE DETECTIVE - S01E08: FORM AND VOID
Author: Daniel Oliveira
Rating 5 of 5 Des:
Touches darkness and darkness touches you back. Toque a escuridão e a escuridão te toca de volta. Com essa frase impactante em se...


Touches darkness and darkness touches you back.
Toque a escuridão e a escuridão te toca de volta.

Com essa frase impactante em seu poster promocional, True Detective fez sua propaganda e chamou atenção para si há pouco mais de dois meses, antes de sua estréia. O que antes era mera curiosidade do espectador, a cada um dos 8 episódios tornou-se fanatismo em grande parte do público, que abraçou a série como o grande lançamento da temporada. Teorias se formaram, artes com os personagens foram feitas, TD e HBO bombaram nas timelines de muita gente em redes sociais diversas. Tudo isso é justificável? Certamente, visto a qualidade do que se via em tela. E é gratificante constatar que uma série (ou minissérie?) que se vendia com uma frase que falava sobre "tocar a escuridão", termine justamente com seus personagens encarando a morte em um recinto tomado pela sombra.

Não havia mais tempo para reviravoltas ou grandes descobertas. O Season Finale tinha a "simples" missão de encerrar de forma digna uma jornada chocante e intrigante, mas conseguiu ir além disso, entregando não só uma conclusão coerente com toda a trajetória, mas também momentos memoráveis para história da televisão. Um exemplo é a cena que abre o episódio, onde somos apresentados ao "lar" do assassino. Um ambiente hostil, tomado pela desordem, refletindo a perturbação da mente daqueles que ali vivem, culminando então na grotesca cena de masturbação em meio a lixo e sujeira por toda parte.


Quando somos levados de volta a lancha em que Rust e Marty interrogavam o Xerife, percebemos que a dupla conseguiu tirar poucas informações do mesmo, que parecia não saber muito do caso, ainda que tenha as "mãos sujas". Foi curiosa a forma como os detetives chegaram a descoberta do paradeiro do assassino. Fomos habituados a ver Rust se destacar nas investigações e ter quase todos os insights necessários, porém, dessa vez, Marty foi quem ligou as peças que faltavam, provando que, ainda que um homem falho (como todos na série), possui seu valor e competência.

Chegando a moradia do "homem alto", o episódio foi tomado por uma tensão angustiante, acentuada pela excepcional trilha sonora. A cada novo cômodo que Marty adentrava na casa, ou a cada curva que Rust fazia no "covil" do assassino, temíamos que o pior pudesse acontecer a qualquer momento. E de fato aconteceu, quando Cohle, tomado por uma de suas alucinações, se viu surpreendido e esfaqueado brutalmente no estômago. Toda o embate, que culminou na chegada de Marty ao local, foi muito bem construído. Cada golpe e ferimento era sentido de forma visceral não só pelos atores, mas também pelos espectadores. Isso se deve a acertada escolha da produção, que priorizou efeitos técnicos ao invés do habitual sangue digital utilizado em tantas outras obras e que não conseguem o mesmo efeito.


Encerrado o caso, restava a True Detective encerrar também a trajetória de seus excepcionais protagonistas. Primeiro Marty, que encontrou conforto ao receber a visita inesperada de sua família, nos dando esperança de que ainda é possível que os personagens possam encontrar felicidade de alguma forma, ainda que estejam para sempre marcados pelos traumas que vivenciaram (e a cena em que Marty externiza seus sentimentos à frente das filhas foi tocante, um grande momento de Woody Harrelson).

Matthew McConaughey, por sua vez, brilhou novamente nos últimos instantes de Rust em tela, falando sobre sua filha e o amor que sente por ela. "Eu nem devia estar aqui, Marty", repetia Cohle, que contou como já havia abraçado a escuridão e se deixado levar quando, repentinamente , acordou. Todo esse momento foi extremamente emocional e serviu pra mostrar como o trabalho dessa dupla de atores se destacou de forma soberba. McConaughey especialmente. Sua indicação e premiação no Emmy deve acontecer e será extremamente merecido.

A trama então se encerra com certa ironia, no diálogo em que os detetives falam sobre as estrelas que brilham no breu do céu. Marty tem uma visão pessimista do assunto, ao passo que Rust encerra a série com uma visão otimista em sua fala. Logo ele, que ao longo de 8 capítulos mostrou-se uma pessoa descrente de tudo que o cercava. É uma pena termos que nos despedir desses personagens, mas é gratificante ter tido o prazer de assistir essa impecável temporada de True Detective.

       "Once, there was only dark. Ask me, the light's winning."                               "Antigamente, só existia escuridão. Na minha opinião, a luz está vencendo."            
Cohle, Rust.


11 Mar 2014

Sobre o Autor

 
Top