“Primeiro as cores.
Depois o humanos
Em geral é assim que eu vejo as coisas.
Ou pelo menos, é o que eu tento.”
A obra magnífica de Markus Zusak publicada em 2007 no Brasil, ganhou este ano sua versão cinematográfica. O filme que conta com produção de Brian Percival (de Downtown Abbey), teve seus altos e baixos. E não tem uma unanimidade entre quem o assiste. Uns amam, outros acham fraco, outros dizem “Que não foi fiel ao livro”. Em um resumo final: O filme vai deixar o que falar.
Depois o humanos
Em geral é assim que eu vejo as coisas.
Ou pelo menos, é o que eu tento.”
A obra magnífica de Markus Zusak publicada em 2007 no Brasil, ganhou este ano sua versão cinematográfica. O filme que conta com produção de Brian Percival (de Downtown Abbey), teve seus altos e baixos. E não tem uma unanimidade entre quem o assiste. Uns amam, outros acham fraco, outros dizem “Que não foi fiel ao livro”. Em um resumo final: O filme vai deixar o que falar.

Primeiro vamos aos elogios, porque o filme merece muitos deles em vários pontos. Brian Percival foi brilhante e, se por um lado, ele não apegou muito a obra [em alguns detalhes] ele se apegou bastante ao período histórico em questão. A Alemanha nazista, as guerras, os ataques aéreos, a insegurança e a incerteza que marcavam o período estavam lá. Os atores Sophie Nélisse (Liesel Meminger), Geoffrey Rush (Hans Hubermann) e Emily Watson (Rosa Hubermann) foram ótimos desempenhando os papeis para os quais foram designados.
Porém é muito marcante uma mudança na característica de alguns personagens. Mudança esta, mais perceptível em Rosa Hubermann. No livro, em seu começo, a arrogância de Rosa beira ao absurdo e você tem a tendência a não gostar dela logo de cara. No filme isso não acontece, com os xingamentos alemães pouco empregados (e eles são abundantes no livro), Rosa fica um personagem beirando a amorosidade.
Alguns elogios merecem ser tecidos para a atriz Sophie que surgiu desconhecida para fazer um dos papéis mais concorridos dos últimos anos. E ela o fez bem, conseguiu transpassar a emoção necessária para as cenas e fez uma boa Liesel. Geoffrey deu vida a um Hans que foi fiel ao Hans do livro, com suas características marcantes de amor, carinho, afeto, compreensão e paciência, Geoffrey convenceu na atuação interpretando o personagem de forma perfeita.
A trilha sonora também é um ponto alto do filme. John Williams cria uma trilha sonora fantástica para a obra, ela se encaixa com as cenas de forma impecável e por isso merecia seu devido crédito. Ela não é tão frequente no desenrolar da história e, talvez por isso, quando ela aparece é bem marcante. A fotografia também é maravilhosa, já havíamos percebido isto antes mesmo do filme ser lançado. A cenografia se mantém fiel à época em que o filme se passa e dá valor as cores.
E, então, a frase do começo faz bastante sentido. Sempre o contraste
entre o branco da neve e o vermelho da bandeira nazista. A cor branca
predomina durante o filme, na neve alemã. A frieza da época é quase
palpável através desse pequeno detalhe. As cores escuras e os tons do
fogo, presente no filme em muitos momentos, também são bacanas de serem
observados. Sempre um contraste. Branco, vermelho e tons escuros. No
fim, a Alemanha da época não era isto?! A frieza do branco, a incerteza
dos escuros e o sangue vermelho. Uma Alemanha em guerra, com bombas
explodindo, encontra no fogo seu lembrete silencioso.
Outro ponto perfeito foi o céu, bastante utilizado durante o filme e bastante marcante no livro. Encaixar tal cenário entre as narrações da morte foi fantástico. A morte, narradora, também não é recorrente. Ela aparece em momentos oportunos onde era cabível e, também, onde ela se faz necessária.
Outro ponto perfeito foi o céu, bastante utilizado durante o filme e bastante marcante no livro. Encaixar tal cenário entre as narrações da morte foi fantástico. A morte, narradora, também não é recorrente. Ela aparece em momentos oportunos onde era cabível e, também, onde ela se faz necessária.

O filme é bom, sim. Seria injusto afirmar o contrário. Porém ele peca
para com os amantes do livro. Existem fatos que são completamente
alterados, falas que são mudadas e cenas que deveriam ter sido
colocadas. Não havia razão para tais mudanças.
“How about the kiss, Saumen...” Não. Esqueça o Saumensch. Você não o encontrará no filme. Agora alguns podem dizer: É só uma palavra. Mas não! Não é. Essa frase é marco no livro e, se é apenas uma palavra, o que custava mantê-la? Além disso, Hans não tinha cigarros que Liesel o ajudava a enrolar, a pequena roubadora teve pouquíssimas aulas no porão, seus pesadelos marcantes no livro são cortados como se nunca tivessem existido. Tais mudanças são compreensíveis, uma vez que, a obra já conta com 131 minutos entre as cenas proporcionadas. Colocar todos estes detalhes estava fora de cogitação, mas isso não significa que eles não façam falta.
Agora, o que a cena mais alterada de toda obra é o seu final. Não foi trecho tirado, não foi cena perdida. Foi cena acrescentada e sem sentido algum. Foi bonitinho? Foi, claro. Mas a cena não existe! Teria sido muito mais emocionante se tivessem mantido a parte de Rudy como era (com ele já morto quando Liesel o encontra) e colocado uma cena que ficaria linda, que marca o livro e que foi ignorada no filme: A pequena Saumensch encontrando o acordeão de Hans em meio aos escombros e próximo ao corpo do pai. Ali, a emoção teria sido bem maior e a cena, em si, teria sido bem mais fiel ocupando, basicamente, o mesmo espaço de tempo. “A Sacudidora de Palavras” marco real nas palavras de Zusak, também não dá as caras na tela do cinema.
“How about the kiss, Saumen...” Não. Esqueça o Saumensch. Você não o encontrará no filme. Agora alguns podem dizer: É só uma palavra. Mas não! Não é. Essa frase é marco no livro e, se é apenas uma palavra, o que custava mantê-la? Além disso, Hans não tinha cigarros que Liesel o ajudava a enrolar, a pequena roubadora teve pouquíssimas aulas no porão, seus pesadelos marcantes no livro são cortados como se nunca tivessem existido. Tais mudanças são compreensíveis, uma vez que, a obra já conta com 131 minutos entre as cenas proporcionadas. Colocar todos estes detalhes estava fora de cogitação, mas isso não significa que eles não façam falta.
Agora, o que a cena mais alterada de toda obra é o seu final. Não foi trecho tirado, não foi cena perdida. Foi cena acrescentada e sem sentido algum. Foi bonitinho? Foi, claro. Mas a cena não existe! Teria sido muito mais emocionante se tivessem mantido a parte de Rudy como era (com ele já morto quando Liesel o encontra) e colocado uma cena que ficaria linda, que marca o livro e que foi ignorada no filme: A pequena Saumensch encontrando o acordeão de Hans em meio aos escombros e próximo ao corpo do pai. Ali, a emoção teria sido bem maior e a cena, em si, teria sido bem mais fiel ocupando, basicamente, o mesmo espaço de tempo. “A Sacudidora de Palavras” marco real nas palavras de Zusak, também não dá as caras na tela do cinema.

Mas, entre tantos “poréns” e “emboras”, o filme é bom, as cenas são bem feitas [embora os saltos de tempo tenham sido feitos de forma brusca e, então, você não os sente e fica uma coisa estranha], as marcas de uma Alemanha sob a ditadura de Hitler ficam bem retratada no filme. Num contexto geral ele é de uma beleza bem singular, e ele toca. Mas, não crie expectativas baseadas no livro, embora isto seja quase impossível é a melhor forma de ver o filme como obra cinematográfica e admirá-la quanto a isso.
A amizade de Liesel e Rudy foi um dos pontos altos do filme. Eles conseguiram retratar bem a amizade da pequena roubadora com o menino de cabelos cor de limão [eles acrescentaram esse adjetivo ao Rudy no fim do filme, afinal, seria um pecado imenso deixá-lo de fora], todos os momentos os atores conseguiram passar as sensações da amizade dos dois personagens e [talvez com a exceção do fim que a alteração se fez desnecessária, mas ainda assim com uma atuação ótima], todas as cenas foram boas. O pequeno Jesse Owens foi bem interpretado no filme.
Sabem o que mais encanta nesta história? A simplicidade com a qual ela é contada. E isso independe do livro ou do filme. Você percebe como as crianças viam a guerra, sem entender o que acontecia, como a morte se sente sendo o mais fiel discípulo de Hitler e como as cores do céu indicam muita coisa. A história das perdas e roubos de pequena Saumensch transpassam as páginas dos livros. Transpassam a tela do cinema. Transpassam todas as barreiras e tocam o seu coração. Ela nos mostra a importância das palavras e do quanto elas podem mudar uma pessoa, mesmo que uma criança. Ela mostra toda a vontade contida em uma pequena criança filha de uma comunista, separada da mãe e indo viver na Alemanha de Hitler de aprender a dominar as palavras e entendê-las. Aprendendo a amar Hitler na escola e a odiá-lo nos pequenos detalhes. Ela nos mostra uma morte que sente o peso do seu papel, e não é feliz com isso.
Se o filme não foi magnífico por esses detalhes, ele é bom dentro do proposto. Ele vale o ingresso pago, ele te coloca lágrimas nos olhos e, para os mais apaixonados pelas palavras e Zusak, uma pontada de dor no coração. Ele tem sua beleza quando analisado como obra cinematográfica e sem comparações com o livro original. Sem estas comparações, que são inevitáveis, a versão da história de Liesel das telas do cinema é emocionante.
Se antes quando a morte te contava uma história que você devia parar para ler, agora, você deve parar também para assistir.
Gênero: Drama, Guerra
Duração: 131 min.
Origem: Estados Unidos, Alemanha
Estreia: 31/01/2014
Direção: Brian Percival
Roteiro: Markus Zusak, Michael Petroni
Distribuidora: Fox Film do Brasil
Censura: 14 anos
Ano: 2014
Nota do DDS:
"O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma
linha, no passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade
interminável de estar no lugar certo e na hora certa. A conseqüência
disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor
e de pior. Vejo a sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma
coisa pode ser duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não
seja, eles têm o bom senso de morrer.”


