Sim, todo mundo já ouviu falar do Big Brother, Oceania, Winston Smith. Mas esse livro é muito mais profundo do que uma simples previsão do future, ou até mesmo, inspiração para um reality show zoado.
10. O título
Muitos dizem que o título foi uma ideia commercial, sendo que o plano inicial do Orwell era que o título fosse “The Last Man of Europe” (“O Último Homem da Europa”). Alguns ainda dizem que o título é uma inversão do ano em que o livro foi escrito, 1948, para dar uma ideia de um future distante (40 anos para a época). Ninguém sabe ao certo. O mistério e as indagações já começam quando o leitor se depara com os primeiros quatro dígitos que nós, leitores, encontramos. Então, se prepare.
9. O conteúdo filosófico
O sr. Orwell conseguiu abranger uma vasta gama de temas em um livro que é bem fácil de ler. Ele discute pontos de vista politicos ao falar que a esperança do mundo está na mão dos proletários, ou como ele diz, os proletas. É por isso que esse livro tem sido leitura obrigatória em muitas escolas do mundo. Mas toda essa simplicidade aparente esconde o exercício de escrita muito complicado e que é muito difícil de recriar. Orwell até escreveu um artigo sobre como escrever melhor usando palavras curtas, simples, nos ensinando a sermos mais diretos, chegamos logo ao ponto. Você pode ler esse ensaio aqui.
8. A literatura distópica
1984 não é o único livro que fala de um futuro distante e de uma sociedade com alguns problemas políticos. Nessa lista também encontramos livros como “Farenheit 451”, em quem ninguém pode ter um livro em casa. “Admirável Mundo Novo”, em que a sociedade está anestesiada com o entretenimento e tem um modo de vida extremamente artificial. “O Zero e o Infinito”, que se passa durante os expurgos russos sem mencionar figuras como Stálin ou Lênin. Quando você embarcar nesse mundo distópico, não tem volta, é fascinante.
7. A tecnologia
Sim, o sr. Orwell foi um homem muito sábio, mas não, ele não adivinhou nenhum avanço tecnológico como a Smart TV (no livro, a telescreen), nem trouxe alegria ao nosso cotidiano do jeito que a Apple fez (há um comercial da Apple de 1984 que faz menção ao livro, veja aqui). Orwell apenas compreendia muito bem o mundo em que viveu, a Europa depois da Segunda Guerra. Então, veja as ideias dele desenvolvidas no livro como pensamentos de um homem mergulhado no cenário social de sua época e adicione a isso o fato de que sempre tendemos a repetir nossos erros no curso da História.
6. Memória e Passado
No livro, o Partido controla tudo: passado, presente e future. Outro esforço nesse controle é chegar na mente das pessoas, tendo controle de suas memórias. Sem memória não conseguimos saber o que aconteceu no passado. Sem memória, o Partido consegue controlar todos os eventos históricos. Ao controlar o passado, o Partido também controla o presente, porque todos vão aceitar o que o Partido diz ser verdade. Para controlar a memória coletiva da população, o Partido proíbe que as pessoas mantenham um registro escrito de suas vidas, e ordena que qualquer fotografia ou document sejam destruídos nos “buracos de memória” expostos em toda Oceânia. Uma vez que a memória não é mais confiável, com o passar do tempo a realidade se torna difusa e a população acredita em qualquer coisa que lhes for dita. Com isso, o Partido manipula o passado para controlar o presente, graças às falhas da memória coletiva. Então, em um mundo em que tudo está desabando, você realmente pode confiar na sua memória fora da sua própria mente?
5. A história de amor
Sim, tem uma história de amor. Mas não é nada bobinho, de filme de sessão da tarde galera. Ela pode ser vista de dois jeitos: as partes suaves e líricas que contam o romance de Winston e Julia funcionam como um contraste às partes mais pesadas do livros, (que são muitas) como quando Winston é torturado ou quando há descrições de como desigual a sociedade do Grande Irmão é (e a nossa não né, imagina!). Ou, a história de amor pode ser vista de maneira mais pessimista: mesmo quando alguém está “apaixonado” isso nunca vai durar em um mundo em que não há liberdade e você está sendo observado todas as horas de todos os dias.
4. Ele tem seu próprio vocabulário, o “Newspeak”
Se você já leu “Laranja Mecânica” vai achar o Newspeak uma brincadeira de criança em termos de dificuldade em ler novas palavras. Mas mesmo que o Orwell não tenha usado tantos conhecimentos linguísticos como Anthony Burgess, ele vai além de qualquer barreira da linguagem e usa uma ideologia para formar uma nova lingual. Ou você acha mesmo que usando algo como “crimepensamento” não tem nada a ver com uma crítica bem precisa de como o Partido tem sede de poder? Mas se pensarmos de outra maneira, a linguagem guia o pensamento e, ao mesmo tempo, o pensamento precisa da linguagem. Então, nenhum pensamento pode se desenvolver sem usar as palavras certas. Assim, as ambições do Partido são inalcançáveis, pois nunca ninguém vai conseguir controlar como um pensamento se forma na cabeça de uma pessoa.
3. Winston Smith não é um herói perfeito
Nós acompanhamos a história através do narrador que nos mostra a vida de Winston Smith e como ele odeia o Partido e quer mudar o jeito o qual ele vive. Bem, ele faz isso, mas consegue mudar apenas sua própria vida e a de mais ninguém. Então ele não é um herói ideal que vai salvar a Oceânia do Big Brother. Ele é humano, corrompido pelas pequenas corrupções de sua vida cotidiana. Isso apenas nos estimula como leitores a tentarmos fazer algo e tentar mudar nossas vidas, e a de outras pessoas também.
2. O simbolismo
Para amarrar tantos temas diferentes, Orwell faz uso de imagens e metáforas de maneira muito habilidosa. O tema da memória e do passado podem ser vistos em objetos antigos que Winston compra na lojinha do Sr. Charrington, e na canção popular que ele tenta se lembrar e só consegue com a ajuda de seu inimigo, O’Brien. A repressão das emoções e o sexo pode ser vista da veia da perna de Winston que sempre coça e que, milagrosamente, desaparece quando ele se apaixona por Julia. O futuro é representado na sala em que Winston é torturado por O’Brien, o “lugar em que não há escuridão”, o que apenas enfatiza o quão pouco de herói ele é de verdade, sempre pensando no melhor para si próprio. O chocolate que Winston rouba da irmã emu ma lembrança difusa reaparece quando Julia divide ingualmente um pedaço raro de chocolate com ele representa a índole egoísta e burguesa de Winston. E, finalmente, na incapacidade de qualquer morador da Oceânia em conseguir provar a existência do Big Brother, onipresente nos cartazes.
1. O livro vai mudar como você vê a sociedade
Escrito em 1948 e publicado em 1949. Mas ainda dialoga com a maneira com a qual a sociedade funciona, em quanto o egoísmo se sobressai, em como a sede pelo poder apaga a continuidade e a prosperidade social. Mesmo se você perder as esperanças de vez, ou ainda, resolver continuar do lado do narrador até o finalzinho, nunca vai acreditar que o Big Brother (nem nada ou ninguém) nunca vai conseguir destruir o espírito humano e suas capacidade, como a produção de arte e o carinho com os outros.
Espero que tenham gostado desses motivos e corram atrás da leitura (ou releitura) desse livro que critica tão bem certos aspectos da nossa sociedade, e até de nós mesmo. Vale a pena!










