Comentários
Diário de Seriador Diário de Seriador Author
Title: Cantinho Nerd - Big Sur: O outro lado da Geração Beat.
Author: Diário de Seriador
Rating 5 of 5 Des:
Sabe quando você é abatido pela depressão pós livro e você não consegue falar sobre ele um bom tempo depois de termina-lo? Essa foi minha s...
Sabe quando você é abatido pela depressão pós livro e você não consegue falar sobre ele um bom tempo depois de termina-lo? Essa foi minha situação com Big Sur.

Sou fã incondicional de Kerouac. E já tinha lido Big Sur a muito tempo atrás e, muito provavelmente numa época errada onde não consegui encontrar toda a beleza que agora vejo na história. Agora relendo, ele me pareceu uma obra ainda mais incrível.

Big Sur foi publicado no Brasil em 2009, época em que li, pela L&PM Pocket e, pode ser apenas questão de gosto pessoal também, Big Sur não obteve da mídia a atenção merecida. Fiquei me perguntando ao terminá-lo: Porque a mídia só lembra de "On The Road" e "Vagabundos Iluminados" quando se fala de Kerouac?

Talvez por que Big Sur seja uma leitura que choca e é oposta tudo que já vimos dele.

Em "On The Road" é possível ver o frenesi causado pela geração beat,  acompanhar Sal Paradise e Dean Moriaty (Kerouac e Neal Cassady) viajando os EUA de costa a costa por diversas vezes apenas em busca de garotas, filosofia,  literatura, fazendo uma mistura de budismo e cristianismo, usando drogas e, acima de tudo, aproveitando cada momento de sua vida de forma completamente contrária ao puritanismo vivido na época. Era um Kerouac jovem, se tornando escritor e sendo feliz. 

Em "Vagabundos Iluminados" vemos um grito em favor da liberdade, o ideal Beat repleto de amor a vida e  natureza, é questão de andanças e descobertas. É  um livro repleto de inspiração budista também, já aviso.

Mas em Big Sur, nós vemos os efeitos de todo esse frenesi de liberdade, drogas e garotas. Assim como nos outros livros, ele usa pseudônimos em sua obra: Neal Cassady (como Cody Pomeray), Carolyn Cassady (Evelyn), Gary Snyder (Jarry Wagner), Philip Whalen (Ben Fagan), Michael McClure (Pat McLear), Lenore Kandel (Romana Swartz), Lawrence Ferlinghetti (Lorenzo Monsanto) e Robert La Vigne (Robert Browning). A escrita é espontânea, ele escreve o que vem a mente e, talvez por isso, o livro seja uma brilhante obra literária autobiográfica.

Kerouac está afundado no alcoolismo, sem querer sair de casa, se escondendo do fãs que batem insistentemente em sua porta. É um Jack bêbado decadente e angustiado pela própria fama. Ele deixa claro que não soube lidar com o fato de ser o "rei dos beats". Ele compra coisas que sabe que não vai usar nunca, se afunda em bebida  e fica paranoico com tudo e todos. Para ele, todos querem tirar proveito de sua fama.

Ele, então, se retira por três semanas em uma cabana emprestada por Monsanto em Big Sur, na costa Californiana e lá narra suas mais simples atividade com riqueza e simplicidade de uma forma que enche a alma e a amargura ao mesmo tempo. Você sente Jack Kerouac. Então começa o relato de seu lado psicológico. Ele começa a sentir a morte de qualquer coisa próximo a ele. Seja seu gato, Tyke, ou uma lontra ou um peixe. Ele se culpa por todas elas. 

Entre idas e vindas à São Francisco, Jack se vê novamente ao lado de seu velho parceiro Cody. Este lhe apresenta Billie, uma de suas amantes, mãe do pequeno Elliott, e Jack se relaciona com ela, tendo alucinações e ideias de conspiração durante dias. As coisas pioram quando eles (Billie e Kerouac) vão passar um fim de semana em Big Sur com Lenore e Dave, onde Jack não pode parar de notar o amor entre os dois e a beleza de Lenore. Porém, para Kerouac, é tudo apenas um grande complô contra ele. Lenore quer apenas envenena- lo com a comida que ela não para de oferecer para ele o tempo todo, sendo educada demais.

Para ele "O rei dos beats” era coisa do passado e as pessoas queriam obrigá-lo a ser aquilo o tempo todo. Sempre queriam conhecê-lo.“O que ontem era belo e puro se transformou por motivos irracionais e inexplicáveis em um lúgubre tonel de merda.” Quando lhe dizem: “Você dizia que era o escritor mais genial do mundo” e ele simplesmente responde responde “ai eu acordei e agora eu sei que não presto pra nada e assim me sinto livre”. A palavra que, de longe, aparece com mais frequência no livro é IDIOTA. Ele se chama dessa forma o tempo todo. Numa angustia consigo mesmo, numa luta com as anjos e os demônios que ele acreditava que o estavam testando.

Big Sur é uma região oceânica e por vezes Kerouac relata o mar da região. Do quão bravo ele era e do poema que escreveu. De como a água ia ao encontro das rochas de forma quase feroz. O mais interessante é que o poema "Mar: Sons do Oceano pacifico em Big Sur" se encontra no fim do livro e é uma leitura aflitiva de se fazer. E difícil. Ler a geração beat nunca é fácil.

O livro em si é uma leitura aflitiva e, talvez por isso, poucas pessoas o façam. É o painel do lado sombrio da geração Beat. Mas eu aconselho muito a leitura, porém, acho interessante ler "On The Road" e "Vagabundos Iluminados" antes. Não que faça diferença na compreensão do livro, mas apenas lendo estes você pode entender o que houve com ele e o que o afligia.

A obra mantém as marcas clássicas da geração beat: a estrada, os laços de amizade, sexualidade livre,  poesia, drogas, álcool, análises da vida e da existência humana. Mas o Big Sur de cada um é particular e vai de momentos. Se você não estiver no momento certo, e com a cabeça aberta, você vai achar que é apenas a história de um velho bêbado decadente. E o livro é mais. Eu digo, leia o livro. Sinta o livro. Sinta as palavras. Sinta Kerouac.



P.S: Está prevista para 2013, sem data definida, a estreia do filme "Big Sur", uma produção dos Polish Brothers ( os quais eu sou apaixonada) e você pode ver o trailer aqui: 




Sobre o Autor

Postar um comentário Blogger

 
Top